MINISTRANDO AULAS TEMPOS DE PANDEMIA – RELATO PESSOAL
E veio o Covid19...
Com ele uma pandemia que confinou mais 30% das pessoas às suas casas, instituindo novas dinâmicas de relações afetivas e profissionais. O distanciamento passou a ser a tônica. Nesse novo cenário, o ofício dos professores e educadores foi um dos que sofreu mudanças mais profundas. Tendo como instrumentos essenciais de nosso trabalho o próprio corpo e voz, nós agora temos como ferramentas imprescindíveis os celulares, computadores e redes sociais. Em meio à adaptação a essa nova forma de trabalho, enfrentamos maiores responsabilidades e cobranças.
Sou professor há mais de duas décadas. Nesse tempo aprendi muito, inclusive a observar às condições que interferem na aprendizagem de meus alunos. Ultimamente me incomodam os textos que diariamente leio sobre nossos estudantes da rede pública que ainda estão sem aula. Muito se diz e se planeja, mas pouco se tem feito. Esses jovens também precisam voltar à sua rotina de estudos. Alguns passos precisam ser dados. Primeiro, acredito que cabe a nós, profissionais de educação, estarmos preparados para aprender novas metodologias de ensino, pois mesmo diante do caos necessitamos de cautela, pois sem a mesma podemos gerar mais ansiedade do que ajudar.
Segundo, não somos nós, mas as secretarias de educação que devem estabelecer mediante documentos legais a definição de ferramentas a serem utilizadas para que a educação continue acontecendo e, inclusive, chegue a alunos com diferentes acessos à internet. Aqui na Bahia é emergente um estudo na rede pública estadual e em cada um de nossos municípios sobre o acesso à internet de nossos alunos. Cabe ainda às secretarias mapear ferramentas que possam ajudar no processo de desenvolvimento integral do educador, para que, posteriormente consiga atuar com os educandos.
Vale ressaltar que houve suspensão de aulas tanto na rede pública, quanto na rede privada de educação em todo o nosso estado em meados do mês de março. No entanto, as instituições particulares se mostraram mais preparadas, pois duas/três semanas depois todas já haviam retornado às suas atividades com aulas remotas, com cronogramas diários de aulas, além de exercícios e avaliações a serem feitas em casa. Enquanto isso, na rede estadual até hoje a educação é negada aos seus clientes. A rede municipal, na maioria das cidades, tem tentado algo, mas o ensino está restrito ao ato de encaminhar somente textos e questões para serem lidos e respondidos pelos alunos em suas residências. Precisamos de mais!
Mas na FAZAG, instituição de ensino superior em que atuo, graças a Deus, vivo situação diversa. Mesmo com muitas dificuldades, não cedemos ao vírus. As aulas, em momento algum, foram negadas a nossos discentes. A pandemia não se mostrou capaz de eliminar meu desejo de ensinar. Muito pelo contrário, nesse momento de grande dificuldade para a humanidade, sinto-me impulsionado a continuar na profissão apesar dos inúmeros problemas. Tenho contado com o combustível essencial para seguir nessa jornada: o reconhecimento e o carinho dos alunos. Por outro lado, nunca foi tão importante à autonomia do professor na apresentação dos conteúdos como agora.
É inegável que a pandemia trouxe vários desafios, mas com ela também surgiram inúmeras oportunidades, foi criado indiscutivelmente um ambiente para que de fato o sistema de ensino ultrapasse finalmente os muros da escola. Fizemos da internet nossa aliada. Sem dúvidas tem nos auxiliado a manter e até ampliar o número de pessoas que nos assiste, reforçando a importância dessa profissão na construção de uma sociedade melhor. Mas, foi um choque! No final de março, fui convidado a fazer um planejamento por um período que não se sabia quanto tempo ia durar. E o que falar das aulas postadas no Youtube? Por mais que a gente já tivesse algum contato com gravação, foi totalmente diferente. Tivemos não apenas que nos adaptar à frente da câmera. Foi necessário mais. Aprendemos de tudo: captação de imagem, microfone, iluminação.
Além dos estudantes, muitos pais ou responsáveis também passaram a acompanhar o trabalho do professor. Pessoas de diversas idades, profissões, visões de mundo, acabaram relembrando muitas coisas do tempo da escola. Sou professor, mas também sou pai e frequentemente estou ao lado de meu filho de nove anos em suas aulas remotas. São inúmeros os relatos de agradecimento, reconhecimento e valorização ao professor, uma das profissões mais antigas da sociedade. O segundo semestre trouxe avanços. Desde agosto, a faculdade onde sou responsável pelo ensino de Estatística, Matemática, dentre outras disciplinas, conta com seu próprio AVA (ambiente virtual de aprendizagem). Lá ministramos nossas aulas. Os alunos já estão habituados à metodologia e a interação já se aproxima do ideal. Hoje é simples compartilhar vídeos, seguir nosso cronograma, cumprir a ementa.
Mas, nem sempre foi assim. O período compreendido entre os meses de março e abril foi difícil não só para mim, mas para meus alunos. Primeiro porque não havia uma plataforma única de trabalho, segundo porque foi difícil convencer os discentes a participarem desse processo. Vimos turmas reduzirem, alunos perderem emprego e não puderem continuar seus estudos, vimos muitos com dificuldade de acesso à internet. Mas, variando entre o youtube, google-meet e o Zoom, ministrei minhas aulas até o final de junho, concluindo o primeiro semestre.
No início a mudança na rotina diária afetou a todos, inclusive a mim. Nas primeiras semanas trabalhava em média 14 horas na preparação de um encontro previsto para durar apenas três. Entre gravar aulas, preparar slides, resumir conteúdos, adaptá-los ao encontro on line eram horas. Mas, com o tempo, vamos nos adaptando. Hoje a tarefa já parece menos árdua. Hoje os alunos sabem onde nos encontrar, quando e como. Ainda que a interação não seja ideal, pois muitos alunos “se escondem” com suas câmaras e áudios desligados, já enxergamos aquele espaço virtual como nossa sala de aula e o rendimento nesse semestre foi bastante satisfatório.
Outra mudança positiva que senti nesse segundo semestre foi em relação à nossa saúde mental. Em abril, nós professores sentimos um incremento abrupto na carga emocional. Muitos ficamos abalados, experimentamos níveis mais altos de estresse. Falando por mim, senti ainda mais a ansiedade, que já é natural da nossa profissão. Foi um início realmente difícil. Havia o sentimento de falta. Faltava algo essencial: mais laços entre professores alunos. Isso me incomodava. Passei os primeiros três meses com a nítida impressão de que meu aluno não estava sendo acompanhado da forma que enxergo como ideal.
A busca por um acompanhamento mais próximo passou a ser minha prioridade. Essa guerra ainda não foi totalmente vencida, mas tem sido batida dia a dia com o aumento da participação de nossos alunos, com a interação nos grupos de whatzaap, tão imprescindíveis ao nosso trabalho atual e com nossa melhor adaptação ao momento em que vivemos. E essa adaptação trouxe frutos. Concluímos esse segundo semestre com aquele sentimento de dever cumprido. Não existe mais a insegurança quanto à falta de vínculos e suas consequências à aprendizagem. O isolamento social imposto pela pandemia, paradoxalmente, também contribuiu para a aproximação e o estreitamento dos laços entre os estudantes e entre estudantes e professores. Participo de grupos de whatsapp de algumas turmas desde que foram criados (alguns em 2017). Grupos que antes serviam apenas para o envio de mensagens rápidas de nós professores, hoje são verdadeiros espaços de aprendizagem, troca de ideias sobre conteúdos disciplinares e de suporte e esclarecimento de dúvidas entre os alunos. Além da aproximação entre estudantes e professores, o uso mais massivo de ferramentas digitais também proporcionou momentos de interação e reflexão antes impensáveis.
No entanto, o ano letivo que se aproxima ainda é uma incógnita. Muitos já falam no retorno aos encontros presenciais e novamente o papel do professor será primordial. Os professores terão um papel importantíssimo no acolhimento dos alunos na volta às suas unidades de ensino. Eles são os mais próximos dos alunos. Por ter o contato diário com eles, serão os primeiros a serem procurados em caso de problemas. E novos desafios surgirão. Com relação ao conteúdo pedagógico, será preciso tolerância. Nesse retorno, os educadores vão precisar rever as expectativas com relação aos conteúdos planejados e objetivos almejados. Precisaremos trabalhar ainda mais a empatia com os alunos.
No entanto, não se pode negar às sequelas que esse período deixará. As consequências negativas desse do isolamento social e privação da rotina escolar são imensas e devem perdurar ainda por muito tempo. Mas reconhecer os caminhos encontrados pelos diferentes atores educacionais para lidar com as adversidades e identificar tudo o que podemos aprender nesse estágio é também uma forma de nos fortalecermos e garantir assim o melhor aprendizado possível aos nossos alunos.
(*) Osmando Barbosa é mestre em Matemática pela UFBA; Especialista em Metodologia do Ensino da Matemática e da Física e em Mídias Educacionais. Licenciado em Matemática e Bacharel em Economia. Professor da rede estadual de ensino e da FAZAG – Faculdade Zacarias de Góes.
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